28/12/2011

Cinema no Brasil: Tendências Contemporâneas

Durante dez anos o cinema brasileiro praticamente inexiste devido à precariedade no fornecimento de energia elétrica. A partir de 1907, com a inauguração da usina de Ribeirão das Lages, mais de uma dezena de salas de exibição são abertas no Rio de Janeiro e em São Paulo. A comercialização de filmes estrangeiros é seguida por uma promissora produção nacional. Documentários em curta-metragem abrem caminho para filmes de ficção cada vez mais longos.
Os estranguladores (1908), de Antônio Leal, baseado em fato policial verídico, com cerca de 40 minutos de projeção, é considerado o primeiro filme de ficção brasileiro, tendo sido exibido mais de 800 vezes. Esse filão é exaustivamente explorado, e outros crimes da época são reconstituídos em Noivado de sangue, Um drama na Tijuca e A mala sinistra.
Gêneros: Forma-se, entre 1908 e 1911, um centro carioca de produção de curtas que, além da ficção policial, desenvolve vários gêneros: melodramas tradicionais (A cabana do Pai Tomás), dramas históricos (A república portuguesa), patrióticos (A vida do barão do Rio Branco), religiosos (Os milagres de Nossa Senhora da Penha), carnavalescos (Pela vitória dos clubes) e comédias (Pega na chaleira, As aventuras de Zé Caipora).
A maior parte é realizada por Antônio Leal e José Labanca, na Photo Cinematographia Brasileira. Essa produção variada sofre uma sensível redução nos anos seguintes, sob o impacto da concorrência estrangeira.
Há um êxodo dos profissionais da área para atividades comercialmente mais viáveis. Outros sobrevivem fazendo "cinema de cavação" (documentário sob encomenda). Dentro desse quadro, há manifestações isoladas: Luiz de Barros (Perdida), no Rio de Janeiro, José Medina (Exemplo regenerador), em São Paulo, e Francisco Santos (O crime dos banhados), em Pelotas (RS).
A partir de 1915 é produzido um grande número de fitas inspiradas na nossa literatura, em especial na romântica Inocência, A Moreninha, O Guarani e Iracema. O italiano Vittorio Capellaro é o cineasta que mais se dedica a essa temática.

Tendências Contemporâneas

Em 1966 o Instituto Nacional de Cinema (INC) substitui o INCE, e a Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme) é criada em 1969 para financiar, coproduzir e distribuir os filmes brasileiros. Há então uma produção diversificada que atinge o auge em meados dos anos 80 e, gradativamente, começa a declinar. Alguns sinais de recuperação são notados em 1993.


Década de 70: Remanescentes do Cinema Novo ou cineastas estreantes, em busca de um estilo de maior comunicação popular, produzem obras significativas: São Bernardo, de Leon Hirszman; Lição de amor, de Eduardo Escorel; Dona Flor e seus dois maridos, de Bruno Barreto; Pixote, de Hector Babenco; Tudo bem e Toda a nudez será castigada, de Arnaldo Jabor; Como era gostoso o meu francês, de Nelson Pereira dos Santos; A dama do lotação, de Neville d'Almeida; Os inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade, e Bye, bye, Brasil, de Cacá Diegues, que reflete as transformações e contradições da realidade nacional. 
Pedro Rovai (Ainda agarro essa vizinha) e Luís Sérgio Person (Cassy Jones, o magnífico sedutor) renovam a comédia de costumes numa linha seguida por Denoy de Oliveira (Amante muito louca) e Hugo Carvana (Vai trabalhar, vagabundo). Arnaldo Jabor (1940- ), carioca, começa escrevendo críticas de teatro. Em 1962 edita a revista Movimento e frequenta o cineclube da PUC-RJ. Dois anos depois faz o curso de cinema Itamaraty-Unesco.
Participa do movimento do Cinema Novo. Faz curtas, O circo e Os saltimbancos, e estreia no longa-metragem com o documentário Opinião pública (1967). Realiza, em seguida, Pindorama (1970). Adapta dois textos de Nelson Rodrigues: Toda nudez será castigada (1973) e O casamento (1975). Prossegue com Tudo bem (1978), Eu te amo (1980) e Eu sei que vou te amar (1984).
Carlos Diegues (1940- ), alagoano, muda-se ainda na infância para o Rio de Janeiro. Cacá Diegues dirige filmes experimentais aos 17 anos. Faz críticas de cinema e desenvolve atividades como jornalista e poeta. Nos anos 60, passa 40 dias na cinemateca de Paris, assistindo a vários clássicos.
Posteriormente, dirige curtas e trabalha como argumentista e roteirista. Um dos fundadores do Cinema Novo, realiza Ganga Zumba (1963), Quando o carnaval chegar (1972), Joana Francesa (1973), Xica da Silva (1975), Bye, bye Brasil (1979) e Quilombo (1983), entre outros.
Hector Eduardo Babenco (1946- ), produtor, diretor e roteirista, nasce em Buenos Aires. Naturalizado brasileiro passa a viver em São Paulo, a partir de 1969. Inicia no cinema como figurante no filme Caradura, de Dino Risi, filmado na Argentina, em 1963. Na Europa, trabalha como assistente de direção.
Em 1972, já no Brasil, funda a HB Filmes e dirige curtas como Carnaval da vitória e Museu de Arte de São Paulo. No ano seguinte, faz o documentário O fabuloso Fittipaldi. Seu primeiro longa-metragem, O rei da noite (1975), retrata a trajetória de um boêmio paulistano. Segue Lúcio Flávio, O passageiro da agonia (1977), Pixote, a lei do mais fraco (1980), O beijo da mulher aranha (1985) e Brincando nos campos do senhor (1990).
Década de 80: A abertura política favorece a discussão de temas antes proibidos, como em Eles não usam black-tie, de Leon Hirszman, e Pra frente, Brasil, de Roberto Farias, que é o primeiro a discutir a questão da tortura.
Jango e Os anos JK, de Silvio Tendler, relatam a História recente e Rádio auriverde, de Silvio Back, dá uma visão polêmica da atuação da FEB na 2ª Guerra. Arnaldo Jabor faz Eu te amo e Eu sei que vou te amar. Surgem novos diretores – Lael Rodrigues (Bete Balanço), André Klotzel (Marvada carne e Susana Amaral (A hora da Estrela).
No final da década, a retração do público interno e a atribuição de prêmios estrangeiros a filmes brasileiros fazem surgir uma produção voltada para a exibição no exterior: O beijo da mulher aranha, de Hector Babenco, e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos. As funções da Embrafilme, já sem verbas, começam a esvaziar-se, em 1988, com a criação da Fundação do Cinema Brasileiro.
Década de 90: A extinção da Lei Sarney e da Embrafilme e o fim da reserva de mercado para o filme brasileiro fazem a produção cair quase à zero. A tentativa de privatização da produção esbarra na inexistência de público num quadro onde é forte a concorrência do filme estrangeiro, da TV e do vídeo.
Uma das saídas é a internacionalização, como em A grande arte, de Walter Salles Jr., coproduzida com os EUA. O 25º Festival de Brasília (1992) é adiado por falta de filmes concorrentes. No de Gramado, internacionalizado para poder sobreviver, só se inscrevem em 1993 dois filmes brasileiros: Capitalismo selvagem, de André Klotzel, e Forever, de Walter Hugo Khouri.
A partir de 1993 há uma retomada da produção através do Programa Banespa de Incentivo à Indústria Cinematográfica e do Prêmio Resgate Cinema Brasileira, instituída pelo Ministério da Cultura. Diretores recebem financiamentos para a produção, finalização e comercialização dos filmes.
Aos poucos, as produções vão aparecendo, como A terceira margem do rio, de Nelson Pereira dos Santos, Alma corsária, de Carlos Reichenbach, Lamarca, de Sérgio Rezende, Vagas para moças de fino trato, de Paulo Thiago, Não quero falar sobre isso agora, de Mauro Farias, Barrela – escola de crimes, de Marco Antônio Cury, O Beijo 2348/72, de Walter Rogério, e A Causa Secreta, de Sérgio Bianchi.
A parceria entre TV e cinema se realiza em Veja esta canção, dirigida por Carlos Diegues e produzida pela TV Cultura e pelo Banco Nacional. Em 1994, novas produções apontam: Era uma vez, de Arturo Uranga, Perfume de gardênia, de Guilherme de Almeida Prado, O corpo, de José Antonio Garcia, Mil e uma, de Susana Moraes, Sábado, de Ugo Giorgetti, As feras, de Walter Hugo Khouri, Foolish heart, de Hector Babenco, Um grito de amor, de Tizuka Yamasaki, e O cangaceiro, de Carlos Coimbra, um remake do filme de Lima Barreto.
Cinema da Retomada: O cinema brasileiro atual foi denominado de “cinema de retomada”, devido à sua fase anterior de estagnação, mas isso é questionado por alguns teóricos, como Caetano; Valente; Melo e Oliveira Jr. (2003) que, em seu texto traçam um histórico do Cinema da Retomada e salientam que a paralisação do cinema brasileiro se restringiu apenas à produção de longas-metragens. 
Para Melo (2003), em seu texto sobre o gênero, a produção e os autores do cinema brasileiro recente, a expressão “retomada do cinema brasileiro” compreende dois sentidos supostamente contraditórios, podendo ser entendida como uma continuidade, evolução ou tradição cultural, ou seja, o cinema já existia, mas por alguma razão deixou de existir, sendo necessário retomá-lo e, como uma fragmentação, descontinuidade ou ciclos, denotando certa fragilidade.
Nesse sentido, o autor faz alguns questionamentos quanto às razões (econômicas, políticas e sociais) que contribuíram para o entrave produtivo do cinema brasileiro e sobre a necessidade de reativar a produção.  

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