Para qualquer pessoa que se preocupe com o estado de nosso planeta, este é um filme obrigatório. A diretora é a ex-baterista de rock e cineasta autoditada Franny Armstrong. Misto de documentário, ficção e animação, ele conta uma história estarrecedora: a da destruição da Terra, causada pela insensatez da humanidade.
O trabalho deste filme é mais extremado do que Uma Verdade Inconveniente, mais independente (em grande parte financiado por dinheiro de indivíduos ou de grupos), e inovador também em sua distribuição (transmitido por link de satélite para 700 cinemas simultaneamente, em mais de 50 países).
A estréia aconteceu em Nova York e as celebridades chegaram de bicicletas e carros elétricos, desfilando depois em um tapete verde, feito de garrafas de plástico recicladas. Cientistas trabalhando nas florestas tropicais da Indonésia e nas geleiras do Himalaia também faziam parte da platéia, dramatizando ainda mais o conteúdo do filme e sua seriedade - com um roteiro construído sobre cenários e modelos criados com rigor por acadêmicos.
Depois da estréia, um evento de 40 minutos reuniu Kofi Annan, Gillian Anderson (de X-Files), e Thom Yorke, do Radiohead. Ah, e o acontecimento todo foi movido a energia solar. Com tudo isto, por sua mensagem e pela maestria de sua realização, tornou-se um cult instantâneo. Sua produção, e esta é uma informação coerente, emitiu 94 mil quilos de CO2.
Mas vamos à história, filmada nos Estados Unidos, Inglaterra, Índia, Nigéria, Iraque, Jordão e nos Alpes franceses. Estamos no ano 2055. No alto de uma gigantesca torre em um Ártico derretido, o Arquivista (Pete Postlethwaite, de Alien e O Jardineiro Fiel) cuida do acervo de todo o conhecimento e toda arte produzida pela humanidade, e a salvo da desolação do mundo - Londres inundada, o Taj Mahal em ruínas, Sidney em chamas, Las Vegas enterrada pela areia. Ele examina na tela de um computador centenas de imagens do passado e se pergunta: Por que não fizemos nada para impedir a mudança do clima, enquanto podíamos? Por que deixamos que o aquecimento passasse dos dois graus até 2015, provocando toda uma série de desastres?
Várias histórias correm paralelas, todas no tempo de hoje. Um homem que ajudou a resgatar New Orleans, depois do furacão Katrina, reflete sobre a indústria de combustíveis fósseis e o desperdício. Um empresário indiano se prepara para o lançamento de uma empresa aérea voltada para o público de baixa renda. Duas crianças iraquianas contam sua fuga da guerra e sua mudança para a Jordânia. Ingleses visitam as geleiras do Mont Blanc, na França, e são ensinados por um guia de 82 anos sobre seu derretimento. O pai desta família fala da frustração por ter tentado instalar uma pequena fazenda eólica em sua cidade do interior (coisa que o próprio Postlethwaite, morto em janeiro de 2011, tentou fazer, e uma das razões de ter sido escolhido para seu papel). Finalmente, uma nigeriana luta contra a miséria num país rico em petróleo e mergulhada na pobreza (sua região é a mais lucrativa para a Shell na nação, mas ela tem de lavar os poucos e pequenos peixes que consegue pescar com Omo e, como isto não lhe permite o sustento, parte para o mercado negro da venda de diesel).
Todas estas histórias transmitem, a seu modo, o mesmo recado: por imprudência, incompetência, falta de iniciativa e estupidez, podemos acabar sendo a única espécie do planeta a cometer um suicídio coletivo, apesar de todas as informações que temos à mão para impedir que isto aconteça.
O imenso museu do Arquivista, ao final do filme, é lançado para o espaço, a salvo de nosso Juízo Final. Alguns ambientalistas, como James Lovelock, acreditam que já é tarde demais, e que só nos resta mitigar os danos. Os negacionistas certamente torceram o nariz para o filme - para eles o consumismo e a fé no capitalismo como o conhecemos não podem ser abalados, e o crescimento irresponsável tem de continuar (em cujo caso podemos apenas rezar por um milagre).
O Mundo está acabando mesmo e todos nós somos responsáveis.
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