30/10/2011

Documentários Científicos

Gênero cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. Mas dessa afirmação não se deve deduzir que represente a realidade tal como ela é. O documentário, assim como o cinema de ficção, é uma representação parcial e subjetiva da realidade.


O filme documentário pela primeira vez foi teorizado por Dziga Vertov (1896-1954), que desenvolve o conceito de cinema-verdade (kino-pravda), defendendo a ideia da fiabilidade do olho da câmara, a seu ver mais fiel à realidade que o olho humano, ideia ilustrada pelo filme que realizou Cine-Olho (1924), haja vista ser uma reprodução mecânica do visível.


O termo documentário é aceito em 1879 pelo dicionário francês Littré como adjetivo referente a algo que tem “caráter de documento”.
Atualmente, há uma série de estudos cujos esforços se dirigem no sentido de mostrar que há uma indefinição de fronteiras entre documentário e cinema de ficção, definindo um gênero híbrido. Surge no início do século o termo docuficção[1]. A etnoficção[2] é uma das práticas nobres deste gênero.



[1]Docuficção (termo que se confunde com docudrama) é um neologismo que designa uma obra cinematográfica híbrida cujo gênero se situa entre a ficção e o documentário. O termo começou a tornar-se corrente no início do século e é comum na gíria de cinema atual (docufiction em inglês ou francês). Há quem indevidamente o refira como sinônimo de docudrama, tomando drama por ficção, o que é vulgar na língua inglesa. O termo docudrama é em certos casos usado para designar um documentário com fins didáticos ou de ilustração histórica. É frequente hoje em dia o uso da docuficção em emissões de televisão destinadas a ilustrar com atores um fato real. Nesse sentido o termodocudrama será mais adequado. Este termo é por vezes usado, com alguma frequência em inglês, para designar uma forma de jornalismo literário: a não ficção criativa.

[2]Etnoficção refere-se especificamente a docuficção, mistura de documentário e ficção. O termo é usado em antropologia visual, enquanto etnografia. Tem por objeto de estudo não o indivíduo, mas a etnia, a não ser que ele a represente. Jean Rouch é considerado como o pai da etnoficção. Etnólogo, apaixonado pelo cinema, cedo descobre que, forçado a intervir no evento que regista a câmara torna-se participante. Exigir na pesquisa uma câmara não participante é um preconceito que a prática contradiz. Atrevendo-se mais na pesquisa, Jean Rouch introduz nela o ator, enquanto ferramenta científica. Nasce um novo gênero de cinema (Jean Rouch and the Genesis of Ethnofiction – tese de Brian Quist, Long Island University). Empregando-se, sobretudo para se referir a filmes do domínio da etnologia enquanto ciência. O termo etnoficção também serve para designar filmes documentários artísticos, de longa tradição, que precedem e sucedem Rouch. O termo pode também ser usado, num sentido mais geral, para designar qualquer obra de ficção com base etnográfica. Pode considerar-se Robert Flaherty, avant-la-lettre, como percursor também da etnoficção, que ele pratica, de um modo mais ou menos intenso, mas sem método científico, em todos os seus filmes desde Nanouk of the North. A etnoficção é uma prática recorrente no cinema português.

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